Dei mais uma sumida básica porque já é de praxe, mas é aquele ditado: eu dou uma sumida, mas to sempre na área.
Moro na cidade de São Paulo há quatro anos já, em janeiro, dia 9 do ano que vem faz cinco anos e recentemente eu voltei a adicionar meus conhecidos das antigas, ou seja da minha cidade natal. Acontece que quando eu me mudei, eu achei que essa era a grande chance da minha vida de fazer diferente, não olhar para trás nunca mais, criar um novo destino que nada tivesse a ver com o meu passado e com tudo o que eu já vivi e isso incluía abrir mão de todas as pessoas e lembranças.
Logo que cheguei aqui, passei por muitas situações turbulentas, ou como eu aprendi a usar uma palavra melhor e que se enquadra mais no que eu vivenciei aqui: vivi vários desacertos. Entenda por desacertos conhecer pessoas pilantras que me passaram a perna principalmente pelo fato de eu vir do interior, ou seja, se aproveitaram que eu não manjava da cidade grande e me pilantraram. Morei em casa que foi interditada pela defesa civil por risco de desabamento, morei em casa que tinha ninho de barata no gabinete da cozinha, paguei depósito antecipado de moradia que os meus móveis não entrava, bem isso, desacerto, s[o para resumir a caminhada.
E nisso eu dei um tempo de rede social, não tinha mais cabeça nem vontade, também minha vida tava toda bagunçada, eu nem sabia ir até o centro da cidade nem pegar busão direito, praticamente tive que recomeçar do zero. Então não tinha nada de proveitoso para postar, enquanto os meus conhecidos estavam começando namoro, saindo todo fim de semana, entrando em algum trampo, começando algum curso, eu tinha a sensação que eu tava paradona no tempo, estagnada sem nenhum progresso por mais que eu lutasse. Só me aparecia pilantra e rampeiro para agir de má fé.
Comecei a ficar mais esperta e mais atenta com as pessoas. Morei em lugares melhores, em casas de mais qualidade. Me blindei de falador e fui seguindo em frente. Parecia que eu tava dando um rumo para a minha vida, já tava começando a vislumbrar o progresso que eu tanto corri atrás. Arrumei um estágio que foi uma verdadeira droga, foi zoado demais por falta de palavra melhor. De novo, mais desilusão e decepção. O tempo passou, venceu meu contrato e eu saí fora do estágio, demorei mais uns meses completamente inerte e deprimida porque já tinha começado a quarentena e essa doença devastadora no auge.
Acontece que pensando mais um pouco, eu fiquei com saudades. Saudades das pessoas, das conversas, do tempo em que eu era feliz e não sabia. Me deu vontade de saber como andava o pessoal das antigas, da escola. Encontrei muita gente casada, com filhos, com emprego, gente que já se formou, gente que tava para se formar. De um jeito ou de outro todo mundo se encaminhando, se arranjando. Aí me bateu saudade dos estilos das casas; largas, espaçosas, com garagem na frente, quintal atrás e corredor do lado, onde ficavam as janelas que recebiam muita luz e claridade para os ambientes internos. Lembrei das periferias da minha cidade natal e comparei com a daqui, é a calmaria e o caos. De repente eu lembrei de tudo, tudo o que eu estava fugindo, tentando esquecer, fingindo que nunca aconteceu comigo, que eu nunca tinha vivido nada daquilo. Logo eu que chega fiz força para parecer daqui, mas o sotaque nunca negou; é poRRRta (risos).
Aí nisso eu fui procurar um amigão das antigas, querido demais. A gente zoava muito na escola, ele me indicou uma música que até hoje eu ouço nos meus momentos mais tristes, isso já faz 11 anos. Procurei ele depois de adicionar muitas pessoas da cidade em que eu morava. Eu nem sei descrever a sensação de vazio e desespero quando você abre o face de uma pessoa querida, que fez a diferença na sua vida e encontra que o face dele agora é "em memória". Achei no primeiro momento que fosse um erro, já fui ficando irritada, que erro grotesco! Mas que erro nada, era real, as reações tristes, os comentários sentindo muito. Faltava poucos dias para completar um ano da morte dele. Novo, 21 anos. Tudo pela frente, tudo para viver ainda. Quando ele morreu eu estava praticamente na minha segunda semana de estágio.
Pensei em como são as coisas da vida. Quando fui procurar restabelecer meus vínculos antigos, saber notícias dos mais chegados, ele já não estava mais aqui.
Eu fiquei tanto tempo tentando fugir de tudo, tentando esquecer os últimos anos em que eu vivi na minha cidade natal. Anos tristes, deprimentes, traumatizantes. Eu só não tinha entendido que as pessoas, meus amigos, meus mais chegados, não tinham culpa de nada. Tudo bem querer seguir em frente, só não precisava ter simplesmente deixado tudo para trás. É como diz a música "fica parado para você ver se o mundo não gira". Acho que amadureci em mais esse aspecto, em não querer colocar meus traumas e sufocos antes de qualquer coisa, as pessoas não têm culpa. Me isolar não vai mudar nada e provavelmente a única prejudicada nisso serei eu.
Ficou a lição de não perder tempo: viver o que é para ser vivido, mas sempre dar uma atenção para aqueles que, mesmo não fazendo parte do convívio diário, fizeram parte da minha vida e marcaram meus dias de alguma forma. Consideração e muita admiração a esse meu amigo que mesmo há tantos anos distante, eu ainda levo como um amigo no meu coração. Espero que todos os meus chegados fiquem bem, evoluam e realizem seus sonhos, porque no fim é sobre isso.
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