Luiz conta sua trajetória de vida e destaca positividade

Hoje o primeiro convidado da nova série aqui do blog vai falar sobre mundo do trabalho, estudos, autoestima e estilo. Foi um bate papo rápido e feito completamente à distância devido as condições atuais. Já adianto que pretendemos fazer outra entrevista como essa abordando outros assuntos, mas a próxima será pessoalmente, quando isso tudo passar. Então, vamos lá: o convidado de hoje é o Luiz Felipe, mineiro, de Montes Claros, cidade que fica no extremo norte de Minas Gerais.

Morador da quebrada em Itaquaquecetuba, grande São Paulo, lado leste, o Luiz é cheio de sonhos e compartilhou com a gente alguns deles. Também contou algumas situações chatas que já passou, tanto no mercado de trabalho, quanto com amizades e destacou a importância de ter autoestima para lidar nas situações mais adversas da vida.


A história de Luiz aqui em São Paulo começou como algo meio inesperado, uma decisão que ele tomou e fez acontecer “me mudar para cá foi um sonho, eu nunca gostei muito da minha cidade. Quando você mora num lugar, nasce num lugar, porém você não se encaixa com aquele lugar. Parece que você sobra, sabe? O espaço é pequeno demais para eu conseguir ser quem eu realmente sou. Eu vim para cá a princípio foi a passeio, férias de julho. Aí eu falei para a minha mãe “acho que eu quero morar aqui” (risos). Aí eu conversei com ela e com meus padrinhos, porque eu vim para cá para passear na casa deles, aí eu arrumei um emprego durante o tempo que eu estava de férias aqui e foi incrível, começou a dar tudo certo. E foi incrível me adaptar porque eu conheci pessoas legais logo de cara e como eu sou muito comunicativo, sou muito do povão, eu conquistei muitas pessoas ao meu redor, conquistei o meu lugar aqui na cidade. (Nossa parece até que eu sou importante, né? Mas eu falo conquistar em questão de amizade, trabalho, essas coisas)”.

Sobre os estudos e o sonho de cursar uma universidade, Luiz conta que pretende cursar engenharia civil ou administração, mas sobre isso, afirma que “não sinto que eu tive uma formação adequada porque eu estudei a minha vida toda em escola pública e quando a gente estuda em escola pública meio que os nossos horizontes não se expandem e quando eu fui fazer o Enem a primeira vez eu fiquei tipo ‘UAU o que é isso?’. Como eu mudei para cá, eu meio que deixei os estudos de lado, mas o ano que vem eu pretendo ingressar na faculdade pública”.

O jovem também contou algumas de suas experiências no mundo do trabalho: Quando eu vim para cá, eu arrumei um emprego, depois eu tive que sair dele porque não estava me encaixando e fui fazendo várias entrevistas. Numa dessas entrevistas, teve uma mulher que olhou para mim e falou “você quer que eu te chame no masculino ou no feminino?” Aí eu olhei para a cara dela e falei ‘eu sou um homem gay, eu não me importo que os meus amigos me tratem no feminino ou no masculino, para mim é indiferente, porém eu estou aqui num ambiente de trabalho, mais profissional e você não é minha amiga ainda, pode ser que você se torne minha amiga um dia, aí você vai ter a liberdade de me tratar da maneira que você quiser, porém aqui eu quero por favor que você me trate no masculino’. Depois que eu saí de lá eu fiquei tipo: cara, que pessoa imbecil, né?. Tipo, tantas coisas para perguntar sobre a minha vida profissional, até algumas perguntas sobre a minha vida pessoal, mas isso foi tão estanho, uma pergunta tão invasiva. Fiquei tipo what a fuck?!”

Quando o assunto foi sobre a possibilidade de preconceito por ele morar na quebrada, Luiz garantiu que não rende para quem não é amigo dele. “Não sei se enquadro como preconceito, mas brincadeiras que falam “ai nossa, veio da zl e blá-blá-blá”, (risos). Mas eu sempre levei isso muito na brincadeira porque quem faz esse tipo de brincadeira geralmente são meus amigos. Até porque eu não dou liberdade para qualquer pessoa ficar brincando comigo. Como morador de quebrada eu preciso ter total cuidado porque querendo ou não, a segurança na quebrada quem faz são pessoas da quebrada porque segurança pública a gente não tem nenhuma e se a gente precisar da segurança pública para algo, puts, desista porque estão cagando e andando para a gente”.

Falando em positividade, Luiz garante: Eu sempre tento ver as coisas com outros olhos, sabe? Eu sou muito otimista. Eu não era, mas aprendi a ser e tem muito impacto, porque eu acho que quando a pessoa é otimista demais, ela sempre vê o lado bom das coisas, como a palavra já diz. Como negro, gay, pobre e periférico a gente sempre tem notícias tristes sobre a nossa bolha e você sendo otimista, você sempre procura se inspirar em pessoas que vieram da mesma bolha que você e chegaram no sucesso. Se eu não tivesse esse pensamento, eu acho que, sei lá, estaria num buraco uma hora dessas.


Estilo também faz parte do dia a dia de Luiz e ele fala um pouco da importância de se sentir bem antes de qualquer coisa e nunca deixar uma pessoa dizer que não algo não caiu legal quando você se sente confortável com algo. “Eu nunca tive um critério para me arrumar, me vestir, eu sempre quis me sentir bem. Com o decorrer do tempo a gente vai se encaixando tipo ‘ai tal roupa fica melhor em mim, tal roupa não fica tão boa’. Eu sou magro e muito alto, aí teve uma vez que eu vesti uma calça mais folgada e eu me senti belo. Daí um amigo de uma amiga falou “nossa, eu não gostei muito dessa calça”. Aí eu olhei e falei ‘cara pensando bem eu fico tão legal’. Só que depois eu conversei comigo mesmo e falei ‘foda-se, eu me senti bonita, me senti bem. É uma calça que me deixa confortável, eu vou usar sim!’. Aí eu falei para mim mesmo ‘nunca eu vou deixar uma pessoa falar o que está ou o que não está bonito em mim. Eu vou me vestir do jeito que eu quiser, se eu tiver parecendo um palhaço e confortável, eu vou continuar me vestindo e me sentindo como um palhaço, porém eu vou estar confortável e me sentindo bonito.’ Porque quando você está com a sua autoestima lá em cima, meu amor, as pessoas podem falar o que quiser que elas não te atingem”.

Esta foi a entrevista de hoje com uma pessoa super positiva, alto astral e empoderada. Espero que tenham gostado e que tenha tido proveito as falas tão inspiradoras do Luiz, principalmente no quesito seguir nossos sonhos, não nos deixar sermos menosprezados só por estarmos num ambiente no qual vamos ser avaliados, como foi o caso da entrevistadora e também não deixar de vestirmos uma roupa que gostamos só porque alguém disse que não fica tão legal. Nós mesmos antes de qualquer coisa.


Comentários